O confessionário 2.0, a metafísica digital e a velocidade da luz
A necessidade de comunicação é intrínseca à natureza do ser humano e, claro, precede o advento da Internet, da roda ou até mesmo do fogo. Somos a única espécie no planeta capaz de expressar claramente nossos sentimentos e emoções em função de nossos sonhos e medos. O pulo do gato está em lembrarmos que temos, sempre, motivadores explícitos e outros ocultos.
“Medo de amar” é um dos sentimentos mais citados por brasileiros na internet
Em minha palestra recente no Digital Age 2.0, abordei este assunto avaliando o comportamento do brasileiro na Era digital por meio da análise de dados obtidos pela ferramenta Hitwise, criada para o mercado de busca e de inteligência competitiva na web.
O Confessionário 2.0
“Tudo que você sempre quis saber sobre …, mas tinha medo de perguntar” é uma expressão tão popular que virou até título de filme do Woody Allen. Nos tempos de Internet a curiosidade continua, mas o medo de perguntar…
Segundo dados do Hitwise, as visitas a sites de conteúdo adulto são 3 vezes mais numerosas que o acesso a canais de bancos na web e quase 5 vezes mais numerosas que a visitação a espaços virtuais de lojas de departamento, uma das categorias mais populares na rede. No entanto, na maioria de minhas palestras, ninguém levanta a mão quando pergunto sobre o tema, embora todos riam. Ora, ou estou fazendo apresentações para públicos muito pudicos ou este tema continua um tabu sobre o qual ainda ninguém quer falar em público.
O Shiv Singh (@shivsingh) falou em sua palestra no Digital Age que é nas redes sociais que as pessoas compartilham seu amor. Eu acrescento: e também seus medos.
Explico-me. Quando avaliamos as buscas relacionadas ao tema “medo”, por exemplo, e excluímos títulos de filme, livros, músicas e outros “nomes próprios”, encontramos os medos mais confessados pelos brasileiros na web. Creia ou não, o “medo de amar” está no topo dessa lista.
Esta ferramenta é fantástica para o mundo dos negócios, da educação, da gestão social, da sociologia, etc: conhecer intimamente os consumidores, sem quebrar a sua privacidade.
Que poder!
A Metafísica Digital
Outro tema relevante e que também mencionei no Digital Age é aquilo que costumo chamar de “a metafísica digital”. Trata-se de entender claramente onde as pessoas estão navegando antes de ir para um determinado site, para onde elas vão após sair dele, o que mais procuram nos mecanismos de busca e de que maneira fazem isso. Informações que valem ouro.
Analisemos sites de e-commerce, por exemplo. Se observarmos seus principais geradores de tráfego na terceira semana de agosto desse ano, descobriremos que 36% das visitas vieram das ferramentas de busca. Outros 8% vieram das redes sociais, 7% dos serviços de e-mail e 5% das primeiras páginas dos portais.
Pretendo explorar melhor o mercado de busca em uma próxima coluna no IDG Now!, quando vou comparar o comportamento de buscas no Brasil com o dos EUA e outros países. Por ora, ressalto que, se alguém ainda duvidava, ele ainda é o principal motor de geração de tráfego para sites de vendas online no Brasil.
Igualmente importante é ter ciência de para onde os consumidores vão depois de deixar o seu site. Ao avaliar um dos maiores sites de comércio eletrônico do País, podemos descobrir detalhes sobre o destino digital das pessoas após visitá-lo. Na verdade, cerca de 10 sites concentram sozinhos 28% de todo este fluxo, dos quais 9% das pessoas vão (ou voltam?) para mecanismos de busca e os demais 19% se dirigem para sites concorrentes.
Quais concorrentes? O que eles fazem para receber essas visitas?
Conhecer as respostas a essas e outras perguntas são um desafio importante dos gestores de marketing digital na composição das suas estratégias de geração de tráfego qualificado na web.
A Velocidade da Luz
A Internet impõe seu ritmo, acelerado, e naturalmente repele aqueles que não sabem se adaptar a ela. Não, acho que repelir é muito forte. O que acaba por acontecer é que mantém-se a presença digital, muitas vezes até felizes com o retorno, mas sem entender que poderia ser muito mais! Por isso, manter os olhos sobre a concorrência e o consumidor é tão relevante.
Meu amigo Bill Tancer, nosso diretor global de pesquisa no Hitwise, narra em seu livro “Click: o que milhões de pessoas estão fazendo on-line e por que isso é importante” o caso do YouTube, que levou apenas 35 dias para sair da escuridão absoluta da rede para se tornar uma unanimidade no mercado de vídeos online. A quantidade de casos similares, nacionais ou não, é quase infinita, mas invariavelmente eles representam o poder e a velocidade do mundo digital.
Mas, para muito além de ser simplesmente rápido, o consumidor é um ser onipresente. Um assunto apresentado na mídia tradicional reverbera no meio digital, e vice-versa. Qualquer tentativa de dissociação entre esses mundos terá o insucesso como destino final ou, para manter o raciocínio, sucesso aquém do potencial.
Panela de pressão
Para ilustrar, costumo lembrar em palestras um caso ocorrido em setembro do ano passado, quando o Jornal Nacional da Rede Globo mostrou estatísticas impressionantes sobre a explosão de panelas de pressão no Brasil.
Por meio do Hitwise, verificamos uma segunda explosão: a de buscas pelo termo “panela de pressão” na Internet. Elas subiram exponencialmente naquela semana, e se mantiveram altas ao longo de 3 semanas. Óbvio? Pode ser, mas melhor para o comerciante que entendeu e soube agir com rapidez.
Outra análise interessante é a do ranking de termos de busca que mais cresceram em geração de visitas a sites de comércio eletrônico. Na semana retrasada, por exemplo, o campeão foi o termo “umidificador”, que apresentou mais de 500 variações, sendo “umidificador de ambiente” a que exibiu melhor CTR (97,06%) dentre as palavras mais representativas.
Para concluir citando Chris Anderson, a cauda é muito longa! E acrescento dizendo que a velocidade da informação sobre o comportamento do consumidor é um dos diferenciais que vão permitir empresas do mundo inteiro a entender o comportamento do consumidor na Era digital e aproveitar melhor suas oportunidades de negócios no futuro.
Fonte:Eureka!