“Eu acho que 2020 passou mais lentamente que os outros anos”, diz Rafael Mota Gregorut, 27. “Pra mim, o ano passou rápido”, afirma Tiago Fonseca, 25. Em um ano marcado por pandemia e isolamento social, os extremos ficam ainda mais claros. Mas, enfim por que a percepção de passagem do tempo difere de pessoa para pessoa?
Em tempos pré-pandemia, essas diferenças de percepção já eram comuns e isso pode estar relacionado menos a características biológicas e mais a uma série de fatores que influenciam o dia a dia de cada pessoa. Gregorut e Fonseca, por exemplo, têm quase a mesma idade, porém possuem rotinas e realidades muito diferentes. Gregorut trabalha porquê comentador de sistemas na Itália e diz que a sensação é que aconteceram muitas coisas em um limitado espaço de tempo:
Eu tendo a descobrir que os anos passam rápido, mas 2020 foi muito longo. Tivemos que mourejar com muita informação novidade todo dia. Durante a primeira período da pandemia, entre fevereiro e maio, havia o boletim quotidiano da resguardo social, na Itália, falando da quantidade de casos, número de mortes e novas descobertas sobre o vírus. Era muita coisa.
Por outro lado, Gregorut acredita que a “falta” de alguns eventos também contribuiu para uma mudança na percepção da passagem do tempo em 2020. Além de datas comemorativas pessoais, porquê aniversários, alguns eventos tradicionais que ajudam a marcar as épocas do ano também deixaram de ser celebradas. “Não tivemos as Olimpíadas, a Feira de Artesanato em Milão, as comemorações de Natal foram limitadas. Muita coisa deixou de intercorrer”.
Marcelo Salvador Caetano, orientador do Programa de Pós-Graduação em Neurociência e Cognição na Universidade Federalista do ABC (UFABC), explica que isso está relacionado à nossa memória temporal. “A hipótese é que fazemos uma estimativa de quanto tempo passou dependendo do quanto a gente lembra dos eventos, quantas memórias formamos ao longo desse tempo”.
Ainda de congraçamento com ele, a rotina é um fator importante na nossa percepção de passagem do tempo:
Quando temos uma rotina muito estabelecida, preenchemos nossos dias com essa rotina. Quando eu estou ocupado ou interessado nas coisas que eu faço, o tempo tende a passar de uma maneira relativamente rápida. Quando eu me isolo, quando há uma mudança brusca na rotina – eu deixo de ver pessoas, de fazer coisas que fazia antes – essas pessoas agora têm mais chance de prestar atenção na passagem do tempo em si. Isso tem um efeito estranho: quando você presta atenção no tempo, ele não passa. Aliás, se eu vivo uma rotina entediante, que não parece que teve zero de novo, de excitante, eu tendo a não lembrar muito disso no horizonte. Logo, a percepção é que passou muito rápido porque não tem muito o que lembrar.
De veste, esse foi o caso de Fonseca, que trabalha porquê garçom em São Paulo e conta que sua rotina manteve-se praticamente a mesma durante a pandemia. Enquanto a maioria da população se isolou em suas casas, ele continuou indo trabalhar normalmente todos os dias. Finalmente, apesar de os restaurantes estarem fechados para o atendimento ao público, cresceu a demanda por entregas. “Eu sempre acho que os anos passam rápido, logo, pra mim, 2020 foi igual. Minha rotina manteve-se a mesma, mas acho que também ficamos tanto tempo focados em tudo o que estava acontecendo que perdemos a noção do tempo”.
Uma das principais mudanças na rotina de Fonseca foi o seu horário de trabalho. Antes, ele cumpria uma fardo repartida, que se iniciava por volta das 11h da manhã e terminava por volta da meia-noite. Na era, ele tinha um folga de três horas durante à tarde, mas, porquê mora longe do trabalho, acabava ficando por lá mesmo. Com as restrições impostas aos restaurantes durante a pandemia, seu horário de trabalho passou a ser das 9h às 17h. “Apesar de não poder aproveitar esse tempo pra passear, pude passar mais tempo em morada com minha família. Isso foi muito bom; eu nunca me senti só porque sempre tinha gente em mansão quando eu saía e voltava do trabalho”.
Gregorut, por outro lado, teve uma experiência muito dissemelhante com o isolamento social, principalmente pelo indumentária de morar sozinho em outro país. Ele conta que, apesar de ter realizado mais videochamadas com família e amigos, a sensação de estar sozinho foi mais poderoso. Todo ano, Gregorut volta para o Brasil em dezembro para passar o Natal e Ano Novo com a família, mas teve que cancelar a viagem devido à pandemia. Em 2020, ele também trocou de tarefa duas vezes. “Na primeira empresa, o envolvente era muito tóxico e eu não me sentia secção do time, logo acabei saindo depois de 10 semanas. Na segunda, foi um pouco melhor, mas ainda não sinto que tenho o mesmo nível de conexão que eu tinha com meus colegas de outros trabalhos. Debutar em um novo serviço já é difícil, debutar da sua moradia sem saber e ver ninguém, sem ter uma conversa informal durante um moca ou almoço é ainda pior. Até pra receber o equipamento foi complicado porque a empresa não estava preparada pra isso”.
Caetano, da UFABC, explica que esses fatores emocionais também exercem um papel importante em nossa percepção do tempo:
Está tudo um pouco relacionado. Muitas pessoas perderam seus empregos durante a pandemia e tiveram que repensar as finanças da morada, isso tudo traz uma fardo emocional muito grande, e sabemos que emoção é um dos grandes moduladores da nossa percepção da passagem do tempo assim porquê nossa atenção. As diferenças culturais também podem ter uma relação indireta. Em uma cultura que tem o hábito de, em horário de almoço, transpor um pouco do prédio para reputar o dia, ou ser muito sociável, encontrar amigos e familiares com frequência, essas pessoas se dizem mais satisfeitas com a vida. Elas têm essa sensação de que ‘o ano passou e não fiz zero’ diminuída, porque elas preencheram com momentos agradáveis.
Para entender melhor porquê o isolamento social durante a pandemia, especificamente, pode afetar a percepção de passagem do tempo pelas pessoas, pesquisadores da Universidade Federalista do ABC, do Instituto do Cérebro (InCe) do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein e da NeurUX estão conduzindo um estudo que avalia diferentes fatores relacionados a essa função. Mateus Silvestrin, aluno de doutorado no programa de pós-graduação em neurociência e cognição da UFABC, é um dos responsáveis pela estudo de dados da pesquisa e conversou com o Gizmodo Brasil para explicar o que é esse estudo e alguns dos principais resultados encontrados até o momento.
Porquê o isolamento social durante a pandemia pode afetar nossa percepção do tempo
De maio a setembro de 2020, a equipe de pesquisadores da UFABC coletou respostas de um questionário com uma série de perguntas que buscavam estimar os diferentes fatores que podem influenciar a percepção de passagem do tempo por uma pessoa. Desde informações sobre a rotina a estado afetivo e nível de estresse, o formulário deveria ser respondido semanalmente pelos voluntários. “Na primeira semana, tiveram mais de 4 milénio respostas. Com o...
passar das semanas, isso foi diminuindo, porquê era de se esperar. Ainda assim, nós temos por volta de 600 pessoas que foram muito fiéis e responderam pelo menos 5 vezes”, conta Silvestrin.
Ele explica que esse é um estudo exploratório e por isso eles tentaram estancar várias áreas para explorar diferentes fatores. O projecto é que, quando as coisas começarem a voltar ao normal, as pessoas respondam o questionário novamente para que eles possam confrontar essa situação “normal” com a de isolamento social.
Para Caetano, essa é uma oportunidade única para realizar um estudo do tipo:
A gente sempre esteve interessado em estudar diversos fatores, porquê nosso estado emocional, o próprio isolamento, a companhia das pessoas, o estado de impaciência, memória, porquê tudo isso afeta nossa percepção de passagem do tempo. E a gente sempre tentou fazer isso em situações controladas de laboratório, o que tem suas vantagens, mas a gente nunca teve a oportunidade de fazer isso em um cenário tão realista e com tanta gente. Alguns estudos foram publicados depois de um ou dois meses de isolamento social, mas o nosso é muito longitudinal, o nosso olha a dinâmica, uma espécie de mudança na percepção de tempo ao longo da semana. O que mudou na rotina das pessoas e porquê isso se traduz na mudança de percepção do tempo. Nesse sentido, ele é muito rico e único.
Segundo Silvestrin, a equipe ainda está começando a averiguar os dados coletados, porém já foi provável identificar alguns fatores. Um ponto interessante é que os voluntários afirmaram que, conforme a pandemia foi avançando durante o ano, o tempo parecia voltar a passar de uma forma mais “normal”.
Quanto mais a pessoa experimentou afetos positivos, menos ela teve essa sensação do tempo se arrastando. Logo, para quem está se sentindo muito, o tempo não parece se compelir. Quanto mais as pessoas estavam se sentindo solitárias, mais elas sentiam o tempo se compelir. E a última coisa que percebemos foi a idade. Parece que as pessoas mais jovens (até 50 anos), sentiam o tempo se compelir mais. A partir dos 50 anos, as pessoas não tinham essa mesma percepção.
Por término, Silvestrin conta que os dados mostraram que as pessoas que diziam não ter tempo para cuidar de si mesmas sentiam que o tempo passava mais rápido. Esse é um dos principais pontos levantados por Raquel Cocenas, pós-doutora em ciências na espaço de percepção do tempo e emoções pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ela, durante a pandemia, as pessoas tentaram utilizar esse tempo “extra” em mansão de diferentes maneiras, e isso também pode ter influenciado a nossa relação com o tempo.
Porquê aproveitar melhor o tempo
Segundo Cocenas, no período de isolamento social, pudemos observar dois grupos de pessoas. O primeiro são aquelas que se animaram com a teoria de permanecer em mansão e aproveitaram para fazer cursos, testemunhar a lives e utilizar esse tempo de uma forma produtiva. Por outro lado, há aquelas que ficaram entediadas, com a sensação de que não havia zero para fazer. “Com o tempo, isso foi mudando. As pessoas que no primícias estavam gostando, que estavam aproveitando pra fazer cursos e várias outras coisas, viram o tanto de possibilidades que havia e se envolveram em tantas coisas que começaram a permanecer ansiosas”, explica ela.
Gregorut conta que foi exatamente isso o que aconteceu com ele. “No prelúdios da quarentena, eu tinha muito tempo livre. Gostei de trabalhar em mansão e vi que eu precisava ser produtivo. Comecei a fazer yoga, reflexão, decorrer, estudar germânico, fazer manobra físico em morada; tudo porque eu sentia essa impaciência de fazer alguma coisa útil com o tempo que eu tinha. Também comecei a buscar mais teor em podcasts, no YouTube, etc. Depois veio a impaciência de querer manter isso. Eu criei uma tábua com uma rotina e me cobrava porque queria manter aquilo, até que veio a frustração de não dar conta de tudo”.
Cocenas ressalta que estudos anteriores já alertavam para os prejuízos que o uso exacerbado de telas e redes sociais podem ter nas funções cognitivas dos seres humanos, alguma coisa que se intensificou durante a pandemia. Porquê a nossa percepção do tempo está ligada à nossa atenção, ela afirma que isso pode trazer algumas consequências futuras também. “A passagem do tempo real não mudou zero. Tem até aquelas histórias de que houve uma variação no eixo da Terreno, mas o tempo está igual. Porém, ao longo dos anos, a nossa percepção está cada vez mais sendo alterada. Porquê temos muito mais estímulos, mais demandas de tarefas, a gente tem essas alterações na percepção do tempo”, explica.
Para diminuir essa impaciência e a sensação de que o tempo está “escorrendo pelos dedos”, Cocenas afirma que é preciso desacelerar, dedicando mais tempo a atividades que ajudem a melhorar o estado emocional:
Nós acabamos desperdiçando muito o nosso tempo se voltando para fora. Permanecer navegando horas em uma rede social, por exemplo, é um pouco que deixa as pessoas mais ansiosas. Também temos uma falsa noção, que está cada vez mais sendo colocada na nossa cabeça, de que temos que ser produtivos e temos que fazer muitas coisas ao mesmo tempo, mas é um grande ilusão. O ideal é ter foco e concentração. Isso é importante para as pessoas começarem a observar. Buscar atividades que elas se interiorizem mais, mesmo que seja por alguns minutos no dia, isso já ajuda a desacelerar. Parar um pouco, olhar pro firmamento, fazer um manobra de respiração, vai melhorar nosso estado emocional, nossas funções cognitivas e, com certeza, vamos nos sentir muito mais produtivos e desempenhar uma tarefa muito melhor. Pelo menos, com a pandemia, as pessoas estão buscando mais a natureza, terapias, e um novo estilo de vida.
Em seguida um ano conturbado, Gregorut afirma que uma das principais lições que vai levar para 2021 é dar mais valor ao tempo. “Acho que vou valorizar principalmente o não fazer zero com o tempo. Porquê consequência, gostaria de não me sobrecarregar tanto. Acho que vou tentar partilhar melhor e priorizar algumas coisas”.
Já Fonseca acredita que o ano de 2020 soou porquê um alerta. “Eu sempre trabalhei com atendimento ao público, mas, depois da pandemia, percebi que preciso dar mais valor ao estudo. Preciso estudar e comprar conhecimento para edificar uma curso no horizonte que me permita trabalhar de lar. O risco de permanecer sem tarefa é muito cimalha”.
Apesar de cada pessoa ter uma experiência dissemelhante durante o ano de 2020, não há porquê negar que ele foi um dos mais marcantes da história e alterou não somente a nossa percepção do tempo, mas a forma porquê enxergamos diferentes questões. Para quem ainda não assistiu a Death to 2020, dos mesmos criadores de Black Mirror, vale a pena rever a quantidade surpreendente de acontecimentos do último ano. Você provavelmente vai se questionar se aquilo tudo realmente aconteceu dentro de 12 meses e o que você fez durante todo esse tempo.
E você? Acha que 2020 passou em um piscar de olhos ou que ele se arrastou até o último segundo do dia 31 de dezembro?
