Apostas do Canaltech para o Melhor Filme do ano


Desde o início da temporada de festivais (talvez até antes), surgem as discussões sobre o próximo Oscar. Apostas, bolões, debates intermináveis sobre quais são os melhores entre os indicados, quais são os injustiçados e esnobados e, evidente, as teorias sobre as indicações daqueles filmes que se acreditam porquê sendo superestimados.

A verdade é que as qualidades existem, mas premiações são políticas – mormente quando estamos falando da mais rosto delas. Transmitir o Oscar só não é tão custoso quanto transmitir o Super Bowl. São cifras hiperbólicas. Milhares e milhares de dólares por cada hora de transmissão. E se há muito moeda envolvido, é mais do que óbvio que há política. Nem falo de políticos, mas da política em si.

A qualidade pode até estar em um suposto primeiro projecto, mas, no final das contas, vencem (ou são indicados) aqueles filmes que tiverem mais fôlego: é panfletagem, propaganda, geração de hype, momento histórico-político-social… E existe toda uma estrutura de votação até a lista final de indicados ser divulgada. É uma lógica um tanto complexa que discorremos em uma material privativo a secção.

Sem mais divagações… vamos ao Oscar 2020 enfim, mais especificamente à sua categoria principal: Melhor Filme (e temos críticas sobre todos os indicados). Qual é o seu preposto? E a sua aposta? Consegue separar esses dois conceitos?

Tivemos um ano ótimo no que diz reverência às indicações. A lista aquém está em ordem de preferência, do menos incrível aos três que foram considerados pelo porquê obras-primas. Mas é muito verdade que qualquer ordem não afetaria muito a questão qualitativa cá. E alguns filmes poderiam estar na lista sem mudar muito essa percepção, porquê Nós (talvez, dentro dos moldes do Oscar, o mais injustiçado do ano), O Farol, Dois Papas… Mas vamos lá!

9. Jojo Rabbit

Às vésperas da cerimônia, Jojo Rabbit acumula 142 indicações a prêmios e 29 vitórias. Tem seis indicações no Oscar 2020. Chances de azarão em Melhor Filme; chances enormes em Melhor Roteiro Adequado; boas chances em Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte; chances remotas nas demais. Teria nosso voto em Melhor Atriz Coadjuvante.

É provável que Jojo Rabbit tenha tanta chance de vencer nessa categoria quanto Green Book: O Guia tinha no ano pretérito. É um filme bonito, de ingestão e digestão fáceis e que na planilha de votação pode estar passeando do meio para cima da tábua de praticamente todos os votantes – o que, pelo sistema de pontuação, pode resultar na estatueta. Ou por outra, o protagonismo infantil em uma atualidade que parece doente é muito muito-vindo na procura por mais leveza na vida. Junte isso a uma figura que representa o tropa do caos ridicularizado de maneira muito inteligente por um roteirista e diretor neozelandês (Taika Waititi) que entrou com tudo em Hollywood e… voilà: Oscar na estante.

Mas estamos em um ano muito poderoso. Não dá para saber, por exemplo, se existe a possibilidade de muitos colocarem Jojo Rabbit supra de Sevandija ou 1917 na votação – apostaríamos que não. Nesse sentido, um Oscar de Melhor Filme para um trabalho de Waititi pode demorar mais um tempo para se materializar. Um pouco que já deve ser mais do que claro para o próximo filme…

8. Ford vs Ferrari

Ford vs Ferrari acumula 65 indicações a prêmios e 21 vitórias – o menos indicado e premiado. Tem quatro indicações no Oscar 2020. Chances reais, mas remotas, em Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som e Melhor Montagem. Teria nosso voto em Melhor Mixagem de Som.

Há três opções para quem apostou em Ford vs Ferrari nessa categoria: foi sem querer, estava possuído por Pazuzu ou quis sacanear e bagunçar os algoritmos. Não que o filme seja ruim – longe disso, inclusive. É um filmaço que fala muito da vida se utilizando de artifício biográfico.

A velocidade em Ford vs Ferrari é quase que um padrão para a vida contemporânea. Tudo tem ficado cada vez mais rápido, mais dinâmico. O momento de frear, assim, talvez seja o ponto-chave, aquele espaço de tempo em que podemos nos sentir leves, dispostos a perceber a nossa existência e quão frágil ela é.

É tudo muito bonito, muito dirigido por James Mangold, com uma montagem perfeccionista que parece correr os acontecimentos e dar vida à paixão pelo automobilismo. Por outro lado, talvez seja o filme com a pegada mais mercantil-hollywoodiana entre os indicados e é completamente improvável que um filme assim tenha alguma chance contra outros com temática social mais aparente e que fazem o cinema de lá ser muito-visto para além de sua própria bolha. O filme aquém consegue fugir um tanto disso.

7. Adoráveis Mulheres

Adoráveis Mulheres acumula 171 indicações a prêmios e 71 vitórias. Tem seis indicações no Oscar 2020. Chances reais em Melhor Figurino. Chances remotas nas demais.

Roteirizado e dirigido por uma mulher incrível (Greta Gerwig), com o tema do feminismo percorrendo todo o filme, concorrendo nas categorias de Melhor Atriz (Saoirse Ronan) e Melhor Atriz Coadjuvante (Florence Pugh)… e fazendo isso de um jeito original mesmo sendo a sétima adaptação de um livro escrito também por uma mulher (Louisa May Alcott): Adoráveis Mulheres teria credenciais e qualidade suficientes para ser um dos favoritos, mas isso cai drasticamente com a não-indicação em categorias fundamentais: Direção, Montagem e Retrato – e, na verdade, mormente em Melhor Montagem, o filme merecia estar na lista final.

E é interessante constatar, em confrontação com os anteriores, porquê esta versão é mais humana e consegue tocar nas feridas sem ser grosseiro. Ao mesmo tempo, não é zero inofensivo. Gerwig conseguiu fazer uma releitura que, por mais que seja contemporânea, tem um poder enorme para repercutir e continuar sendo relevante de uma forma que pensar uma oitava versão pode não ser mais provável.

E por falar em versão…

6. Era uma Vez em… Hollywood

Era uma Vez em… Hollywood acumula 298 indicações a prêmios e 108 vitórias – o recordista de indicações. Tem 10 indicações no Oscar 2020. Chances de azarão em Melhor Filme; estatueta de Melhor Ator Coadjuvante praticamente na estante; chances reais em Melhor Roteiro Original e Melhor Direção de Arte; alguma chance em Melhor Figurino; chances remotas nas demais. Teria nosso voto em Melhor Direção de Arte.

A releitura que Quentin Tarantino faz (e já fez, por exemplo, em Bastardos Inglórios – torrando o camarada imaginário de Jojo dentro de um cinema) é histórica. Mas o diretor parece ir além cá: há uma nostalgia, mas há também um sentimento mais humano em sua meio. A sensação pode ser a de que o já icônico diretor cansou de si mesmo e procurou se reinventar.

E zero melhor para essa autorreflexão do que ter velhos parceiros por perto: Leonardo DiCaprio, Brad Pitt (o mais provável vencedor da categoria de Melhor Ator Coadjuvante), o diretor de retrato Robert Richardson (indicado à estatueta de Melhor Retrato)… Todos em prol de uma novidade unidade dentro da teoria tarantinesca. Era uma Vez em… Hollywood é, de veste, um filme que tem um jeitão muito seu, é muito fechado em si – tanto pelo roteiro do próprio Tarantino (indicado a Melhor Roteiro Original) quanto esteticamente falando.

Circula pelas redes que é um dos favoritos. E é mesmo. Mas a concorrência para subir mais um degrau rumo ao nepotismo totalidade é com o próximo candidato.

5. Coringa

Corinha acumula 151 indicações a prêmios e 57 vitórias – recordista de indicações no Oscar 2020 (11 no totalidade). Chances de azarão em Melhor Filme; estatuetas de Melhor Ator e de Melhor Trilha Sonora praticamente na estante; chances remotas nas demais. Teria nossos votos em Melhor Trilha Sonora e Melhor Maquiagem e Penteado.

Um filme com roteiro ajustado por trazer um personagem dos quadrinhos; uma divinização intensa sobre a rescisão do varão junto a uma sociedade cruel; um estudo de personagem que transgrede todo preconceito por filmes saídos das HQs e eleva à máxima potência a incerteza sobre quem são os vilões: os fins ou o meio?

O Coringa (personagem) de Todd Phillips é moldado para a violência a partir de sua aparente aversão à esta. A densidade alcançada pelo diretor, porém, seria menos profunda se não fosse a atuação de Joaquin Phoenix (predilecto na categoria de Melhor Ator) e a trilha sonora da também favorita em sua categoria Hildur Guðnadóttir.

Coringa e o filme de Tarantino poderiam ter chances muito maiores se não fossem os três últimos filmes da lista. Mas vamos para um antes deles.

4. História de um Himeneu

História de um Casório acumula 218 indicações a prêmios e 118 vitórias. Tem seis indicações no Oscar 2020. Estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante já na estante; alguma chance em Melhor Roteiro Original; chances remotas nas demais. Teria nossos votos em Melhor Roteiro Original, Melhor Ator e Melhor Atriz.

Eis aquele que, para nós, é a primeira obra-prima da lista. E é um filme que alcança isso pelo viés da simplicidade e, mormente, pela conhecimento de um dos roteiristas e diretores mais sensíveis da atualidade: Noah Baumbach. O que ele faz cá é quase sobrenatural. Há uma fusão perfeita entre veras e trova visual, uma unidade que tanto guia a percepção do público quanto direciona a um olhar mais introspectivo sobre o término de uma relação que, a depender do pretérito, não significa o término de um sentimento eterno.

História de um Himeneu é uma espécie de sincronia perfeita para descrever sobre a relação mais romântica que pode subsistir: a simbiose entre paixão e tempo. A transformação que um justificação ao outro é infinita. O tempo pode parar para o paixão e o paixão pode movimentar o tempo. O que existe no espaço entre um e outro é a vida… e esta é aquilo que, se tivermos condições, podemos guiar com mais ou menos dificuldades, mas sempre com a certeza de que não somos mais quem já fomos. E que tá tudo muito. Se houve paixão – se há paixão –, quem somos nós para lutar contra a liberdade e a independência que o outro nos deixou? Quem somos nós para lutar contra a evo?

Um filmaço que, infelizmente, deverá transpor da premiação com somente uma estatueta: para Laura Dern porquê Melhor Atriz Coadjuvante. Muito dissemelhante do próximo.

3. 1917

1917 acumula 142 indicações a prêmios e 103 vitórias. Tem 10 indicações no Oscar 2020. Principal candidato a Melhor Filme; estatuetas de Melhor Direção e Melhor Retrato nas mãos; chances mais do que reais em Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som; boas chances em Melhores Efeitos Visuais; chances remotas nas demais. Teria nosso voto em Melhor Retrato e Melhor Edição de Som.

É verdade que o virtuosismo técnico de 1917 salta aos olhos rapidamente. Desde o início, quando a silêncio de um campo ingénuo e sombrio – que parece remeter ao A Árvore da Vida ou até mesmo ao Além da Risca Vermelha (ambos de Terrence Malick) – lentamente dá espaço para a intromissão humana, pode ser perceptível a teoria da direção de Sam Mendes. Os Cabos Blake e Schofield são apresentados ali mesmo, sonolentos. Eles despertam junto à mudança de direção da câmera, que passa a segui-los sem interrupções aparentes. A partir de logo, a estrutura pensada por Mendes atua em prol de um todo muito coeso, fechado em si mesmo. Dessa maneira, passa a ser praticamente impossível pensar o filme de outra forma.

Não que exista qualquer tipo de prioridade dada à técnica em detrimento da história. A questão é que todo o esqueleto do que se passa está levantado sobre as bases de um método de decupagem irrepreensível e funcional cá. E, no final das contas, 1917 não é exatamente um filme de guerra: é um filme que, a todo momento, foge da guerra. Corre detrás de dois homens que têm a missão de evitar um conflito. Por mais que outros filmes tenham demonstrado a boa sensação de término-de-guerra, 1917 consegue carregar, em seus falsos planos-sequências e durante quase duas horas, a urgência de um mundo em silêncio.

Por mais que seja o principal concorrente a Melhor Filme – a aposta mais certa –, o próximo tem um intensidade social e histórico, além de uma penetração social, superior.

2. Sevandija

Hoje, às vésperas da cerimônia, Sevandija acumula 183 indicações a prêmios e 199 vitórias – o único que os prêmios superam as indicações. Tem seis indicações no Oscar 2020. Difícil, mas pode ser vencedor em Melhor Filme (seria lindo e histórico); estatueta de Melhor Filme Internacional garantida. Chances reais em Melhor Direção de Arte e Melhor Roteiro Original. Chances remotas nas demais. Teria nosso voto em Melhor Filme Internacional.

A segunda obra-prima da lista é, provavelmente, o filme que mais perto chega da unanimidade. Assim sendo, Sevandija é o primeiro filme estrangeiro (para os EUA, evidente) com chances reais de levar o Oscar na categoria principal. Roma, na edição de 2019, até esboçou alguma força nesse sentido, mas não conseguiu oprimir com tanta força quanto o filme coreano.

E não é por menos: enquanto o de Alfonso Cuarón trabalha de maneira mais contemplativa as questões sociais, com um distanciamento emocional sincero, Sevandija enfia o dedo nas feridas sem qualquer pudor. Bong Joon Ho, o carismático diretor do filme, não traça uma visão para fomentar reflexões – ele faz as reflexões ali mesmo, duro. Insere humor (que é uma particularidade de sua filmografia) para logo uma risada ter o peso da culpa, dá espaço para respiros só para sufocar na sequência… tudo cirurgicamente e, supra disso, com um conhecimento de linguagem cinematográfica que sabe exatamente o que quer ocasionar. Além do mais, a consciência de classe de Sevandija vai muito além de todos os outros concorrentes.

Se a barreira da língua não for quebrada nessa edição do Oscar, a Ateneu não deve ter outra chance porquê essa durante muito tempo. E o filme merece? Sem incerteza alguma! Pela junção dos méritos técnicos, emocionais e de necessidades atuais, é, disparado, o que mais merece. Se não lucrar cá, pelo menos não deverá transpor de mãos abanando, porque tem fortes chances de vencer nas categorias de Melhor Direção de Arte e Melhor Roteiro Original, além de o prêmio de Melhor Filme Internacional estar guardado. Dissemelhante do último filme da lista (a terceira obra-prima), que talvez só assista à premiação mesmo…

1. O Irlandês

O Irlandês acumula 300 indicações a prêmios e 61 vitórias. Tem 10 indicações no Oscar 2020. Alguma chance em Melhores Efeitos Visuais; chances remotas nas demais. Teria nossos votos em Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adequado, Melhor Montagem e Melhor Ator Coadjuvante (Joe Pesci).

Talvez por sua duração, talvez por sua temática sobre envelhecer – a dor do tempo – O Irlandês tenha perdido muito fôlego na reta final. De todo modo, pode ser interessante perceber que o filme de Martin Scorsese não está interessado na pompa do delito nem muito menos em provocar alguma espécie de reverência do público para com seus personagens – mormente por Frank Sheeran (Robert De Niro). A direção de Scorsese, junto ao roteiro adequado de Steven Zaillian, prefere o lado mórbido de tudo, a parcela mais humana e menos permissiva dos atos.

A visão de Scorsese, por sinal, faz de O Irlandês um contraponto para O Poderoso Chefão (com a música de Robbie Robertson evocando a de Nino Rota de vez em quando). Em oposição ao filme de Francis Ford Coppola, o que se vê cá não é a máfia porquê alguma coisa a ser temido-porém-respeitado, a prosperidade da família e a decadência da moral exercidas por homens; o que se apresenta é a máfia pela máfia aos olhos do público. No final das contas, Scorsese tem controle totalidade do seu trabalho a ponto de se permitir deixá-lo inteiramente para as interpretações e para o ajuizamento de cada testemunha. Para muitos – para nós, inclusive –, uma obra-prima indiscutível.

Concorrentes ao Oscar 2020 de Melhor Filme. (Imagem: Divulgação)

E logo? Qual é o seu filme predilecto? Qual você acredita que irá vencer? Por quê? Vamos debatendo porque, apesar de ser uma premiação muito política, movimenta o cinema, o que a torna essencialmente válida!

A cerimônia do Oscar terá início às 22h (horário de Brasília) do dia 9 de fevereiro (domingo). O meio pago TNT irá transmitir na íntegra a partir das 21h (também no horário de Brasília), iniciando pelo tapete vermelho. Já pela TV ocasião, a Rede Mundo só iniciará a transmissão em seguida as 23h, quando alguns prêmios já terão sido apresentados. Pela internet, os assinantes da TNT poderão observar através do TNT GO, o serviço de streaming do meato. Ainda dará para escoltar através do próprio Twitter da emissora (@TNTbr), do Instagram da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Setentrião (@ACCiRN) e pelo G1. Também será provável acessar o próprio site do Oscar para escoltar